É correto dizer Todes?

Nos últimos anos, o debate sobre linguagem inclusiva ganhou espaço em diversos setores da sociedade. Um dos termos mais discutidos é a substituição do “o” e do “a” por “e”, criando palavras como “todes”. Essa mudança visa incluir todas as pessoas, especialmente aquelas que não se identificam com os gêneros masculino ou feminino. Mas, afinal, é correto dizer “todes”? E o que dizem os especialistas sobre essa questão?

todes É correto dizer Todes?

A Origem da Linguagem Neutra

A linguagem neutra surgiu como resposta à necessidade de representar pessoas que não se enquadram no binarismo de gênero, ou seja, aquelas que não se identificam estritamente como homem ou mulher. Tradicionalmente, a língua portuguesa classifica as palavras em masculino e feminino, o que acaba excluindo identidades não-binárias. Para evitar essa exclusão, algumas pessoas começaram a adotar o “e” no final de palavras, como em “amigues” ou “todes”.

O uso de “todes” é uma tentativa de construir uma linguagem mais inclusiva e consciente das diversidades de gênero. Diversos movimentos sociais, sobretudo os ligados à causa LGBTQIA+, têm defendido essa mudança. Mas será que essa forma é aceita gramaticalmente?

O Que Diz a Gramática Tradicional?

A gramática tradicional da língua portuguesa não prevê o uso de termos como “todes”. Ela se baseia em regras estruturadas ao longo de séculos, nas quais o gênero masculino é empregado como “neutro” em situações onde se incluem ambos os sexos. Por exemplo, quando há um grupo composto por homens e mulheres, o correto, segundo a gramática, é utilizar “todos”.

Por isso, muitos puristas da língua argumentam que palavras como “todes” não fazem parte do português padrão. Eles ressaltam que, além de não estarem registradas em dicionários, essas palavras quebram as regras de formação de gênero da língua. Contudo, a linguagem é viva e dinâmica, e o que é considerado correto pode mudar com o tempo.

A Importância da Inclusão na Linguagem

Apesar de a gramática tradicional não reconhecer “todes”, a questão vai além das regras formais. Muitas pessoas defendem que a linguagem inclusiva é uma forma de respeito e reconhecimento das identidades não-binárias. Dizer “todes” pode parecer uma mudança simples, mas para quem não se identifica com os gêneros tradicionais, essa palavra carrega um significado poderoso.

A linguagem inclusiva visa desconstruir preconceitos e tornar a comunicação mais igualitária. Ela procura abranger todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero. Portanto, mesmo que não seja gramaticalmente “correto”, o uso de “todes” representa um avanço em direção à inclusão e ao respeito.

O Que Dizem os Especialistas?

Há divergências entre especialistas da língua portuguesa. Muitos linguistas reconhecem que a linguagem está em constante transformação e defendem que a inclusão de novos termos faz parte desse processo. Alguns afirmam que o português já passou por mudanças semelhantes no passado, como a adoção de neologismos e a inclusão de palavras estrangeiras.

Outros especialistas são mais resistentes, apontando que o português possui uma estrutura gramatical complexa e que mudanças radicais, como a neutralização de gênero em palavras, poderiam tornar a comunicação mais confusa. Eles acreditam que a linguagem inclusiva pode ser adotada em contextos específicos, mas não deve se tornar regra geral.

Um ponto em que muitos concordam é que a língua deve refletir as transformações sociais. À medida que a sociedade passa a reconhecer a diversidade de gênero, é natural que surjam tentativas de adaptar a linguagem para acompanhar essas mudanças.

Como a Linguagem Inclusiva Está Sendo Adotada

Em alguns ambientes, especialmente os ligados à educação, cultura e movimentos sociais, o uso de “todes” e outros termos neutros está se tornando mais comum. Escolas e universidades, por exemplo, têm discutido formas de tornar a comunicação mais inclusiva. Alguns professores já adotam a linguagem neutra em sala de aula, enquanto outros ainda preferem seguir as regras tradicionais.

Na mídia e em redes sociais, “todes” aparece com frequência em postagens de ativistas e influenciadores. Empresas e instituições também começaram a rever seus discursos, buscando formas de incluir todas as identidades. É importante observar que essas mudanças não são obrigatórias, mas sim opções conscientes de se comunicar de maneira mais acolhedora.

Desafios da Linguagem Neutra

O principal desafio do uso de “todes” é a resistência ao novo. A língua portuguesa possui uma estrutura binária de gênero que é difícil de modificar sem causar impactos em toda a comunicação. Além disso, a compreensão da linguagem neutra pode ser um obstáculo, principalmente para pessoas que não estão familiarizadas com o tema.

Outro ponto é a dificuldade de estabelecer regras claras para o uso da linguagem neutra. Diferente da mudança de vocabulário, como a inclusão de gírias, a neutralização de gênero envolve alterações em pronomes, adjetivos e outros elementos da língua. Isso faz com que muitos se perguntem até que ponto essa mudança é possível ou desejável.

A Linguagem Neutra e a Inclusão

O uso de “todes” é uma maneira de incluir grupos historicamente marginalizados na linguagem cotidiana. A língua reflete a cultura e os valores de uma sociedade, e, ao adotar a linguagem neutra, é possível promover uma cultura mais inclusiva.

Há quem argumente que, mesmo sem ser reconhecido oficialmente pela gramática, o uso de termos como “todes” pode contribuir para uma mudança de mentalidade. Ao adotar a linguagem inclusiva, as pessoas demonstram respeito pelas diversas identidades e ajudam a construir um ambiente mais acolhedor.

Alternativas à Linguagem Neutra

Para quem se sente desconfortável em usar “todes” ou encontra dificuldade em aplicá-lo corretamente, existem alternativas para tornar a linguagem mais inclusiva. Por exemplo:

  • Usar expressões coletivas, como “pessoas” ou “a comunidade”.
  • Empregar pronomes indefinidos que não tenham gênero marcado, como “quem” ou “alguém”.
  • Evitar o uso excessivo de pronomes de gênero em frases.

Estas estratégias ajudam a construir uma comunicação mais inclusiva sem necessariamente romper com as regras tradicionais da gramática.

O debate sobre a linguagem neutra é complexo e envolve questões sociais, culturais e linguísticas. Dizer “todes” pode não ser “correto” segundo a gramática normativa, mas seu uso reflete uma busca por inclusão e respeito à diversidade. A língua é dinâmica e pode se adaptar às necessidades da sociedade.

O importante é que cada pessoa se sinta à vontade para escolher a forma de se expressar que melhor representa seus valores e crenças. A linguagem inclusiva não precisa ser imposta, mas pode ser adotada como um gesto de empatia e reconhecimento das diversas identidades existentes.

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